terça-feira, fevereiro 20, 2007

Bailarico Inglês - II Parte






Deitou-se e continuou a ler o livro. A história era cada vez mais bonita.
Antes de ir dormir, Alexandra foi há casa de banho e quando se viu ao espelho viu o seu rosto, mas estava um bocado diferente. Estava mais bonita, tinha um colar de pérolas e um tiara no cabelo.
Assustou-se. Viu o espelho a remexer-se. Tocou e sentiu-se a ser sugada lá para dentro.
Alexandra aterrou num sítio escuro e sentiu-se um bocado atordoada , mas depressa recuperou.
Apalpou a parede e conseguiu abrir a porta. Um fio de luz iluminou o compartimento e viu que se tratava de uma pequena sala com um grande espelho.
Alexandra ouviu música a tocar e pessoas a rir e a conversarem e dirigiu-se para lá.
- O baile! - exclamou Alexandra.
Viu casais a dançar com roupas do século XVIII.
Olhou para si. Também estava vestida de um lindo vestido azul.
Reparou no conde William sentado no cadeirão, a olhar para o baile vagamente.
Alexandra estava eufórica. Como foi ali parar? Será que todo ali era um sonho? Foi para o centro da pista de dança sem acreditar no que estava a ver.
Conde William reparou na linda mulher vestida de azul.
- Quem é aquela mulher?
- Não sei. - respondeu o duque George.
Conde William ficou maravilhado. Desceu do cadeirão e foi ter com ela.
- Quem sois vós? - questionou ele.
Alexandra virou-se e assustou-se.
- Chamo-me Alexandra. - respondeu.
- Sou o conde William de Gales. - apresentou-se o senhor. - E vós sois o quê?
- Eu sou duquesa de Bragança. - mentiu ela.
- Onde fica isso? - interrogou o conde.
- Em Portugal. -respondeu ela.
- Sois portuguesa? - espantou-se o conde. - Não sabia que havia mulheres tão lindas em Portugal! Mas não me lembro de ter convidado nenhuma duquesa de Portugal!?
Alexandra engoliu em seco. Tinha posto a pata na poça. Estava feita, teria que sair dali o mais depressa possível.
Mas de facto, a sorte estava do lado de Alexandra. O duque George interrompeu a conversação de ambos.
- Interrompi-vos? - inquiriu o duque George.
- Não. - respondeu Alexandra, prontamente.
- Sou o duque George de Glasgow. - apresentou-se.
- Sou a duquesa de Bragança. -respondeu ela.
Conde William reparou que o Duque George de Glasgow estava visivelmente interessado em Alexandra e não conseguiu deixar de sentir uma pontinha de ciúmes e resolveu convidá-la para dançar.
O conde fez uma pequena vénia e pegou na mão de Alexandra e interrogou:
- Quereis dançar comigo?
- Sim. - aceitou ela.
Dançaram durante uma hora e a cumplicidade entre os dois aumentava em cada pezinho de dança.
- Nunca vi homem tão romântico! - suspirou Alexandra.
- Quero mostrar-vos o meu palácio. - informou o conde.
William levou Alexandra ao jardim do palácio e ela não deixou de reparar na beleza deste e no belo lago de cisnes.
Ouvia-se a música nitidamente e continuaram a danaçr mais um pouco e depois passearam entre os jardins.
William pegou nas mãos de Alexandra, beijou-as e de seguida deu-lhe um beijo apaixonado.
- Amo-vos! - declarou-se ele.
Alexandra sentiu-se confusa. Era a primeira vez que alguém se havia declarado a ela e ainda por cima um conde de rara beleza.
Alexandra deixou-se levar pelos sentimentos e pelo romantismo do momento.
- Também vos amo. - acabou por dizer.
Deram mais um beijo apaixonado.
- Venha, vou mostrar-lhe a minha parte preferida do palácio. - informou o conde.
Ele levou-a para dentro e dirigiu-se à sala dos espelhos.
Foi ali que tudo começara.
- Adoro esta sala. Foi aqui que nasci. - informou ele.
William pegou nas mãos de Alexandra, beijou-a e disse que a amava incondicionalmente, mesmo sendo a primeira vez que se tinham visto.
- Quero sentir-te. - disse o conde.
Alexandra encontrava-se perto do espelho gigante e no mesmo instante em que o conde se preparava para desabotoar os botões do vestido, Alexandra foi sugada pelo espelho e encontrou-se de novo na casa-de-banho. Olhou para si, estava de pijama. Olhou para o espelho e viu-se tal e qual na realidade, tocou-o e não se sentiu sugada.
Alexandra correu para o quarto e leu o livro até ao fim e o que leu foi impressionante: a história era tal e qual com o episódio pelo que ela tinha passado.
Alexandra reflectiu sobre o assunto. Ficou com saudades do conde William de Gales e dos momentos que passaram juntos. Apaixonou-se irremediavelmente por ele. Tinha de arranjar uma maneira de regressar ao palácio, acabar o amor que não chegaram a fazer.
Mas na verdade, Alexandra nunca mais conseguiu lá regressar e envelheceu solteira e virgem e nunca mais viu o homem da sua vida e pensou no que tinha acontecido e chegou à conclusão que o livro era mágico e só depois percebeu o verdadeiro significado da 2ª frase da capa do livro: "Uma viagem ao Mundo da Fantasia". Tudo o que ela tinha vivido não passara de uma ilusão que ela própria não passara duma ilusão que ela própria tinha criado e acabou por morrer de desgosto por ter desperdiçado a sua vida com uma fantasia.

Carnaval


No dia de Carnaval

Há pessoas mascaradas,

Todos nos vamos divertir

E comer muitas malassadas.


Vamos divertir-nos

E brincar no Carnaval

Com muita alegria

Que ninguém leva a mal!


O dia de Carnaval

Comemora-se no mundo inteiro.

Mas o mais lindo de todos

É o do Rio de Janeiro.


Catarina Cabral, in "Ecos de Criança"

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Amor é...


Amor é um fogo que arde sem se ver,

é ferida que dói e não se sente;

é um contentamento descontente

é dor que desatina sem doer.


É um não querer mais que bem querer;

é um andar solitário entre a gente;

é nunca contentar-se de contente;

é um cuidar que ganha em se perder.


É querer estar preso por vontade;

é servir quem vence, o vencedor;

é ter com quem nos mata, lealdade.


Mas como causar pode seu favor

nos corações humanos amizade,

se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões, Poesia Lírica

sábado, fevereiro 10, 2007

Erros meus, má fortuna, amor ardente


Erros meus, má fortuna, amor ardente,

em minha perdição se conjuraram;

os erros e a fortuna sobejaram,

que para mim bastava o amor somente.


Tudo passei; mas tenho tão presente

a grande dor das cousas que passaram,

que as magoadas iras me ensinaram

a não querer já nunca ser contente.


Errei todo o discurso dos meus anos;

dei causa [a] que a Fortuna castigasse

as minhas mal fundadas esperanças.


De amor não vi senão breves enganos.

Oh! quem tanto pudesse que fartasse

este meu duro génio de vinganças!


Lúis de Camões, Poesia Lírica