sábado, fevereiro 10, 2007

Erros meus, má fortuna, amor ardente


Erros meus, má fortuna, amor ardente,

em minha perdição se conjuraram;

os erros e a fortuna sobejaram,

que para mim bastava o amor somente.


Tudo passei; mas tenho tão presente

a grande dor das cousas que passaram,

que as magoadas iras me ensinaram

a não querer já nunca ser contente.


Errei todo o discurso dos meus anos;

dei causa [a] que a Fortuna castigasse

as minhas mal fundadas esperanças.


De amor não vi senão breves enganos.

Oh! quem tanto pudesse que fartasse

este meu duro génio de vinganças!


Lúis de Camões, Poesia Lírica

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