domingo, fevereiro 05, 2006

Capítulo 11

Uma noite com a tribo Wawhie

Os Pequenos Grandes Heróis e os seus acompanhantes andaram pela selva sempre à escuta de sons estranhos. Se algum animal selvagem ou um mutante aparecesse, davam-lhe logo um tiro.
Liliane ajudava o Pui-li no mais que podia. Enquanto estavam a caminhar, Pui-li desmaiou nos braços de Liliane.
- O Pui-li desmaiou! – gritou a Liliane. – Acho que está cheio de febre, a cabeça pareceu-me quente!
Todos correram para junto do Pui-li. Este estava a suar imenso e queixava-se de dores musculares e de cabeça.
- Oh, não! – exclamou o Samuel, examinando os sintomas.
- O que é que o Pui-li tem? – perguntou a Liliane, preocupada.
- Malária. – respondeu o Samuel.
- Oh, não! – exclamaram a Liliane, o Doug e o Jimmy.
- O que podemos fazer para ajudá-lo? – inquiriu a Liliane.
- Nada. – responderam o Samuel e o Igor.
- O que é a malária? – quis saber o Alan.
O Jimmy foi pesquisar «malária» na Internet e leu a resposta:
[1]A malária é uma doença provocada por algumas espécies de protozoários pertencentes ao género Plasmodium, nomeadamente Plasmodium falciparum (provoca o tipo mais grave de malária), Plasmodium Vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale. É uma das doenças infecciosas humanas mais amplamente disseminadas, apresentando-se como endémica em muitos países de África, Ásia e América Latina, embora se verifiquem frequentes casos em outras zonas do globo, devido ao fluxo de viajantes e turistas. O modo de transmissão da malária é complexo, envolvendo um hospedeiro intermediário obrigatório (mosquitos do género Anopheles) antes de infectar o homem. O Plasmodium passa por diversas metamorfoses ao longo do ciclo de infecção. Resumidamente: quando um mosquito infectado pica, passam esporozóitos (uma das formas da metamorfose do Plasmodium) para o sangue, dirigindo-se rapidamente para o fígado, onde invadem as células hepáticas, dentro das quais se dividem rápida e assexuadamente, originando merozóitos. No fígado, quando a célula hospedeira rebenta, os merozóitos são libertados para a corrente sanguínea, onde invadem as hemácias (glóbulos vermelhos), originando trofozóitos, que se continuam a dividir assexuadamente, originando mais merozóitos, que são, de novo, libertados para a corrente sanguínea por rebentamento das hemácias, num ciclo de feedback positivo de infecção. Dentro das hemácias, alguns merozóitos vão diferenciar-se em células sexuais masculinas e femininas (gametócitos), as quais podem ser transmitidas aos mosquitos que piquem um doente. Uma vez no insecto, quando ocorre a digestão das hemácias, os gametócitos ficam livres e unem-se formando um oocisto nas paredes do estômago, aí desenvolve-se um esporozóito que, quando maduro, migra para as glândulas salivares do mosquito, reiniciando o ciclo de infecção. Os sintomas ocorrem durante a fase de infecção das hemácias, cerca de 10 a 16 dias após a entrada do protozoário no organismo. Ocorrem ciclos de febres altas, suor, dores musculares e de cabeça, tornando o doente fraco, exausto e anémico. O tempo de cada ciclo de febre varia consoante a espécie de Plasmodium responsável pela infecção, sendo vulgar a alternância de períodos de bem-estar com períodos de doença nos casos de malária benigna (P. vivax, P. malariae e P. Ovale), até que podem acabar por desaparecer espontaneamente. Nos casos de infecção por P. Falciparum, a febre e os sintomas são mais persistentes, podendo ocorrer aumento do volume cerebral e pulmonar, bem como um bloqueio da actividade hepática. A taxa de mortalidade é elevada se não for tratada imediatamente, o que ocorre, em parte, devido ao bloqueio dos capilares e vénulas, pelas hemácias destruídas. Durante quase cem anos o tratamento foi realizado apenas com recurso ao quinino, sendo que actualmente se aplica a terapia conjunta da cloroquina (destrói merozóitos no sangue) e da primaquina (actua ao nível do fígado). Como não existe vacina, a prevenção à doença centra-se na erradicação dos mosquitos (hospedeiros intermédios obrigatórios para o agente infeccioso), em evitar as suas picadas (por exemplo, através do recurso a repelentes) e na tomada das drogas usadas para o tratamento, como medida de profilaxia e de prevenção no caso de viagens para zonas endémicas de malária.
- Pelos efeitos, parece que o Pui-li foi infectado pelo Plasmidium Vivax, Malariae ou Ovale. – opinou o Jimmy. – Ainda bem que não é dos mais graves...
- Mas temos de levar o Pui-li ao hospital. – disse o Samuel. – A malária é uma doença mortal.
- Mas estamos perdidos... – suspirou o Igor.
- Vamos analisar o Pui-li como deve ser, não nos precipitemos, pode ser que isto seja um falso alarme... – aconselhou o Alan.
O Samuel dirigiu-se ao Pui-li e examinou o seu corpo o melhor que pôde.
- Sentes comichão nalgum sítio? – questionou o Samuel.
- Na perna. – respondeu o Pui-li, coçando-se.
Samuel analisou a perna e constatou o que já esperavam: Pui-li foi picado por um mosquito.
- O Pui-li foi mordido por um mosquito contaminado. – analisou o Samuel.
- Temos de levar o Pui-li ao hospital o mais depressa possível... – disse a Liliane.
- Mas como? Se estamos perdidos? Está a começar a escurecer! – suspirou o Doug.
- Não podemos desistir agora, vamos à procura das cabanas, devem estar para aqui perto... – disse o Jimmy.
Pui-li sentia-se fraco, com dores musculares e de cabeça, calor, suor, exaustão, falta de ar e palpitações.
- O Pui-li está tão pálido! Acho que são os efeitos da anemia. – opinou o Samuel.
Caminharam pela floresta dentro seguindo as instruções do Jimmy. Liliane e Samuel ajudavam o Pui-li a deslocar-se.
Passado duas horas, Pui-li não aguentou a pressão e desmaiou.
Acharam melhor não acordá-lo para não forçá-lo a andar mais. Igor ofereceu-se para levá-lo ao colo. Samuel largou o pequeno leão na floresta. Sabia que Pui-li iria embirrar com ele, mas Pui-li não estava em condições de tratar de um animal, estando ele próprio, em risco de vida.
Ouviram o ruído de tambores e de pessoas a cantar. Estavam perto da tribo Wawihe.
Passado vinte minutos já os conseguiam ver a dançar e a tocar tambores em volta de uma fogueira.
Resolveram ir ter com eles, mas não interrompê-los, pois isso podia ofendê-los e poderia dar bronca. Mas não foi preciso, o chefe deles mandou parar a festa.
- Quem são vocês? – interrogou ele.
Pelo tom de voz via-se que era autoritário, mas não mostrava raiva de todo. Estava mais era ofendido por estarem a interromper, mas é tão raro receber visitas.
- Somos uns míseros habitantes locais a passear turistas. – respondeu o Igor, que pelos vistos já conhecia aquela gente.
O chefe chamava-se Ambujaal e tinha oito anos.
- Temos um colega infectado com malária. – informou o Igor. – Ainda por cima estamos perdidos... deixa-nos ficar aqui pelo menos esta noite?
- Claro. – concordou o Ambujaal. – Juntem-se à festa!
Os tambores começaram a tocar e toda a gente a dançar. Pui-li foi levado para uma cabana onde um jovem chamado Sarabel tentou tomar conta dele.
Na festa todos se divertiam. Cantavam, dançavam, comiam e bebiam.
- Vou fazer mais uma tatuagem. – informou o Ambujaal. – Se também quiserdes fazer uma estejam à vontade.
Doug ofereceu-se para fazer uma tatuagem no braço.
Depois de longas horas de grande sofrimento por parte de Doug, a tatuagem ficou pronta. Valeu mesmo o esforço, pois ela era muito bonita.

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Sarabel estava a fazer um trabalho impecável. Cuidou das feridas de Pui-li e deu-lhe um dieta para minimizar os efeitos da anemia. Sarabel contou a Pui-li que a sua irmã mais nova de quatro anos morreu por causa da malária:
- Foi picada por um mosquito Plasmodium falciparum. – Tem de ir ao hospital o mais depressa possível se não quiser acabar como a minha irmã.

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A dança dos Wawihe era cheia de ritmo. Dançavam à volta da fogueira a cantar. E o mais engraçado eram as máscaras que usavam.
- Quero apresentar-vos o meu amante, Dattrola. – apresentou o chefe Ambujaal.
- Muito prazer! – espantaram-se todos.
- O senhor é homossexual? – perguntou o Igor, que era muito descarado.
- Sim. – respondeu o chefe Ambujaal. – Na tribo Wawihe temos uma ideia completamente diferente face à homossexualidade. Aqui, os homens podem pedir aos pais a mão dos seus filhos em troca de oferendas. Normalmente aceitam e os dois amantes vão viver juntos numa cabana. O parceiro mais novo permanecerá amante do mais velho até este decidir casar com uma mulher. Se não quiser, eles podem continuar a ser amantes.
- Muito interessante! – admirou-se o Igor.
- Sabe o caminho das cabanas de aluguer de Luanda? – questionou o Samuel.
- Sei. – respondeu o chefe Ambujaal. – Amanhã ensinar-vos-ei o caminho.

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Pui-li encontrava-se a dormir e Sarabel não conseguiu conter-se: deu-lhe um beijo nos lábios muito ao de leve para ele não notar. Sarabel nunca tinha visto turista tão bonito... nunca tinha visto ninguém com aquele tom de pele, com aqueles olhos rasgados e muito menos com aquela amabilidade e inocência que Pui-li tinha. Sarabel começou a pensar que ele tinha vindo de outro planeta. Mas descobriu que ele tinha nascido no Japão (país que nunca tinha ouvido falar), mas pelos vistos era do planeta Terra. E mais uma coisa que Sarabel aprendeu entretanto: existem três raças diferentes: a negra e a branca que já conhecia e a amarela, que pelos vistos nunca tinha encontrado ninguém dessa raça.
- Mas há uma primeira vez para tudo! – exclamou o Sarabel, dando-lhe outro beijo muito leve.
Pui-li andava alheio perante esta prova de amor, pois estava a dormir como um “anjo”.
A Sarabel custou-lhe a acreditar que estava irremediavelmente apaixonado por aquele rapaz doente que nunca tinha visto antes.
Sarabel deu-lhe outro beijo. Sabia tão bem! Aqueles lábios cor-de-laranja muito finos e macios... mas que prazer! Sempre que beijava Pui-li sentia uma aura mágica e maravilhosa, a aura vermelha do amor.
[1] Texto retirado da Diciopédia 2004 da Porto Editora

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