domingo, fevereiro 05, 2006

Capítulo 12

De volta às cabanas e mais um mutante

Pui-li acordou e sentiu-se bastante melhor. Olhou para os lados e não se familiarizou com o local.
- Mas onde é que eu estou? – quis saber o Pui-li, olhando o rapaz que dormia a seu lado. – E quem é este?
Sarabel sentiu que Pui-li estava acordado e levantou-se:
- Sou Sarabel e fiquei encarregado de tratar de si.
- Onde é que eu estou? – inquiriu o Pui-li.
- Está numa cabana da tribo Wawihe. – respondeu o Sarabel. – Pensei que já sabia, pois eu e o senhor falamos ontem à noite...
Pui-li dirigiu-se para a saída, mas Sarabel impediu-o:
- Não pode sair sem ajuda... o senhor está doente!
- Estou a sentir-me muito bem. – ripostou o Pui-li.
- Deve ter desmaiado para se ter esquecido que estava aqui... – aclamou o Sarabel.
- Sim, eu desmaiei... mas hoje sinto-me bem! Um pouco cansado, mas... bem! – disse o Pui-li.
- Mas a malária não se cura do dia para a noite, o senhor ainda está doente... – contrariou o Sarabel.
- Mas eu sinto-me bem... se calhar não tenho malária, deve ter sido do calor... – desdisse o Pui-li, saindo porta fora.
- Mas que teimoso! – admirou-se o Sarabel. – Uma pessoa quando está saudável fica tão arrogante! Mas... a sua voz e a sua espontaneidade são magníficas!
Os outros estavam a conversar com o chefe Ambujaal, ouvindo as suas indicações.
Liliane olhou para o lado e vê o Pui-li sem Sarabel para o ajudar e ainda por cima com cara de quem nunca esteve doente.
- Pui-li! – exclamou ela.
- Olá! – cumprimentou ele, muito feliz.
- Estás bem disposto! – reparou o Doug. – O que aconteceu?
- Nada. – respondeu o Pui-li. – Só acordei bem disposto sem febre nenhuma.
- Não aconteceu nada entre ti e o Sarabel? – questionou o chefe Ambujaal. – É que ele é cá uma bomba!
- O que quer dizer com isso? – interrogou o Pui-li.
- O Sarabel já foi meu amante e era cá uma brasa... mas terminamos porque ele casou-se com uma rapariga, mas continua a gostar de homens... – explicou o chefe Ambujaal.
Pui-li sentiu-se embaraçado. O Sarabel estava deitado a seu lado. Será que ele aproveitou-se dele enquanto estava desmaiado ou a dormir?
- Eu não sou homossexual. – afirmou o Pui-li.
Ficaram todos muito contentes por Pui-li encontrar-se bem, mas o Igor advertiu que ainda não estava curado, teria de ir ao hospital. A malária provocada por Plasmodium Vivax, Malariae ou Ovale é vulgar a alternância de períodos de bem-estar e de doença, mas também podem desaparecer espontaneamente.
- Já sabemos onde estão as cabanas, mas ficam mais longe do que eu pensava... – informou o Jimmy, ao Pui-li.
Suspiraram. Já estavam fartos de caminhar.
- Então vamos. De que é que estamos à espera? – perguntou o Doug, desejoso por chegar às cabanas e descansar.
- Lembram-se do trabalho que temos de fazer? – indagou o Samuel.
- Descobrir a cena dos mutantes. – respondeu o Pui-li.
- Eu tenho medo... – tremeu a Liliane.
- Eu protejo-te, miúda. – prometeu o Pui-li.
- Desaparece, palerma. – bramou a Liliane.
Pui-li não conseguiu conter uma gargalhada.
- Do que é que te estás a rir, hediondo? – quis saber a Liliane.
- Dos nomes que me chamas. – respondeu o Pui-li. – Mas no fundo, no fundo tu gostas de mim...
- Não sejas parvo. – ripostou a Liliane. – Só por as outras gostarem de ti, não quer dizer que também goste de ti, seu estúpido.
Pui-li ficou triste pela maneira como ela o tratava. Estava a brincar com ela. Ele sabia que Liliane o odiava. Foi só para chateá-la um bocado, era tão divertido!
Despediram-se do chefe Ambujaal e do Sarabel, agradecendo-lhes.
- Pui-li, já te vais embora? – perguntou o Sarabel.
- Sim. – respondeu o Pui-li.
- Cuida-te! Vai para o hospital o mais depressa possível... – aconselhou o Sarabel.
- Mas que chato! – pensou o Pui-li.
Embrenharam-se na floresta mais uma vez e tomaram o pequeno almoço debaixo de uma árvore à fresca.
- Ah, já me esquecia... o leão bebé? – questionou o Pui-li.
- Eu larguei-o na floresta. – respondeu o Samuel.
- Porquê? – interrogou o Pui-li. – Eu disse que queria que o leão ficasse comigo, eu queria tomar conta dele... ele está ferido... vai morrer...
- Está descansado, o leão não estava assim tão ferido e a selva é o seu ambiente natural, nunca iria gostar que tomasses conta dele... se morrer, olha, paciência! – tranquilizou o Samuel.
Pui-li ficou amuado e começou a sentir a cabeça a latejar. Os músculos começaram a ficar rijos dificultando-lhe os movimentos e a cabeça estava mais quente que nunca. Pui-li começou a suar.
- Pui-li estás a sentir-te mal? – inquiriu o Alan.
- Sim. – respondeu o Pui-li.
- Eu não disse? – ripostou o Igor.
Alan foi para junto de Pui-li e ajudou-o a levantar-se.
- Vamos. – disse. – Temos de ir ao hospital o mais depressa possível.
Andaram pela floresta e passado algumas horas, Pui-li esgotou-se completamente e desmaiou.
Alan acordou-o e deu-lhe uma garrafa de água para beber.
- A malária dá anemia. – informou o Samuel.
- Coitado do Pui-li! – deixou escapar a Liliane.
- Preocupas-te comigo? – admirou-se o Pui-li.
- Claro, sou tua amiga. – embaraçou-se a Liliane.
Continuaram a andar e chegaram a uma praia onde o mar estava sujo e a fazer bolhas: a praia Barreira Negra.
- Bem, estou a ver que há muito poluição por aqui... – começou o Doug, que estava acostumado a ver praias limpas com mar azul.
- Vou ver se descubro mais qualquer coisa. Sou biólogo marinho e posso investigar a presumível contaminação das águas do mar através de observações aos peixes. – disse o Alan.
- Agora não temos tempo... – discordou o Samuel, olhando para o Pui-li.
- Tens razão, fica para outra altura. – concordou o Alan.
Continuaram a caminho e não repararam num mutante a sair do mar.



O inspector Hugo Faria estava desesperado com os membros da nova patrulha, pois não deram notícias desde que chegaram a Angola. Já estava a ficar preocupado e chegou a pensar como é que um construtor civil, um biólogo marinho, um surfista, um engenheiro informático, um veterinário e uma modelo sem experiência nenhuma no mundo da investigação poderiam algum dia descobrir o mistério dos mutantes. Pensou que a organização de uma nova patrulha tinha sido um erro, mas o inspector chefe Mendonça Soares teimava em dizer que a nova patrulha era um máximo.
- Ele é que é o profissional... – pensou o Hugo.


Estava a escurecer e os Pequenos Grandes Heróis ouviram um rugido furioso.
- O que é isto? – inquiriu a Liliane, medrosa. – Um leão ou um tigre?
- Não, este rugido é de um ser humano. – desdisse o Pui-li. – Mas parece ter tido uma modificação qualquer.
- Um rugido de um humano mutante? – possibilitou a Liliane, a medo.
- Talvez. – respondeu o Pui-li.
Desataram aos berros.
- Vamos ter calma, está bem? – tentou acalmar o Samuel. – Temos armas.
Ouviram um som vindo dos arbustos.
- Quem está aí? – perguntou o Samuel, com a espingarda à sua frente pronta a disparar.
- Não me façam mal. – suplicou alguém por detrás dos arbustos.
- Então, saia. – pediu o Samuel.
A criatura saiu a medo.
- Não disparem contra mim... – choramingou o mutante.
- Como te chamas? – perguntou o Samuel.
- Mohamed. – respondeu ele.
- Como ficaste assim? – quis saber Liliane, horrorizada.
- Não sei bem... eu quando saí da água do mar da praia Barreira Negra vi a minha irmã com cara de mutante e assustei-me, mas a minha irmã também gritou. Nós descobrimos um pelo outro que estávamos transformados nisto... – explicou o Mohamed. – Eu não encontro a minha irmã em lado nenhum, estou à procura dela e...
Mohamed foi interrompido pela horrível imagem que captou: eles tinham a sua irmã... morta!
- O que foi? – questionou o Samuel.
- Vocês mataram a minha irmã! Vocês mataram a minha irmã!! Vou matar-vos!!! – gritou Mohamed, à beira da loucura.
Não era caso para menos. Ele adorava a irmã mais nova. Era a sua única família e sua única amiga, agora ela estava ali... morta. Além disso, foi ele é que sugeriu irem à praia da Barreira Negra, onde tinha ido ele e mais ela à três anos atrás com apenas seis anos e ele com catorze. Era por culpa dele que eles se tornaram mutantes horríveis e feios e a irmã estava ali... morta.
Mohamed começou a chorar.
- Desculpa, nós nem sequer sabíamos que ela era uma pessoa... – desculpou-se o Igor.
Mohamed avançou para eles pronto para se vingar, mas Igor disparou um tiro nele e ele morreu.
- Vamos deixá-lo aqui? – indagou o Igor.
- Sim, já temos um para análise. – respondeu o Samuel.
- Agora sabemos que aquela água é contaminada com produtos tóxicos. – começou o Alan.
- Depois vamos investigar, agora temos outros assuntos a tratar e além disso merecemos descansar. – disse o Samuel.
Andaram mais um pouco e depararam-se com as cabanas.
- Aleluia! – exclamou a Liliane. – Vou poder deitar-me numa cama como deve ser...
- Amanhã de manhã levaremos o Pui-li ao hospital, agora vamos descansar. – disse o Samuel.
- Sim!!! – suspiraram todos de felicidade.
- Vou mandar um mail ao inspector Hugo Faria. – disse o Jimmy.

De: jimmy_mcguire@hotmail.com
Para: hugo_faria@yahoo.com.br
Assunto: informações
Inspector Hugo Faria desculpe nós não termos enviado nenhuma notícia, pois ainda não começamos as investigações. Nós fomos fazer um safari e perdemo-nos. Encontrámos um mutante e matámo-lo e vamos levá-lo ao Centro de Investigação em África do Sul.
Hoje encontrámos outro e acabámos por matá-lo, pois ele quis matar-nos porque o mutante que tínhamos morto era a irmã dele. Mas descobrimos uma coisa muito interessante: eles tinham tomado banho no mar da praia Barreira Negra e conseguimos vislumbrar mais ou menos o mar: tinha um aspecto poluído e contaminado. Vamos investigar isso o mais depressa possível.
Enquanto estivemos perdidos, nós dormimos numas cabanas da tribo Wawihe. São muito simpáticos!
Mas nem tudo foi um mar de rosas, pois descobrimos que o Pui-li tem malária, mas não é muito grave (graças a Deus) e vamos levá-lo ao hospital amanhã de manhã. Acredita que um acompanhante nosso, o Igor, atropelou um leão bebé e Pui-li foi tratar dele? Queria levá-lo connosco! E ficou ofendido por Samuel ter largado o leão no meio da selva e ficou todo preocupado com ele...
Bom, vou despedir-me!
Cumprimentos, por parte de toda a equipa!

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