sábado, janeiro 14, 2006

Capítulo 31

Uma confissão de Alice Kerrod


Alice Kerrod e Ralph Brown encontravam-se no quarto a fazer amor.
- Ralph, tenho uma coisa para te contar. – informou a Alice.
- Diz, amor. – pediu o Ralph, beijando-a no pescoço.
- É sobre o meu passado... – informou a Alice.
- Diz. – pediu o Ralph.
- Eu não sou licenciada no ensino. Eu só fui até à quarta classe. – começou a Alice.
- Então como conseguiste encontrar vaga para este colégio? – quis saber o Ralph.
- Eu apropriei-me do curriculum vitae de uma professora de Matemática reformada, mudei para o meu nome e consegui vaga para entrar. – respondeu a Alice.
- Mas porque é que fizeste isso? – inquiriu o Ralph.
- Eu já te explico, mas não me interrompas, está bem? – disse a Alice.
- Está bem. – aceitou o Ralph, curioso.
- Quando era criança, eu e o meu irmão fomos muito maltratados pela minha família e vizinhos. Éramos muito pobres e vivíamos num bairro de lata em Edimburgo. Os meus pais foram pais aos catorze anos e eram bêbedos e drogados, logo não sabiam lidar connosco. Detestavam-nos, estavam sempre a dizer que tínhamos estragado a vidas deles. Batiam-nos com o cinto todos os dias, violavam-nos, etc. Aos sete anos, eu e o meu irmão fomos obrigados a prostituir-nos para sustentarmos os nossos pais. Se não trouxéssemos dinheiro para casa, os nossos pais batiam-nos e se nós não o quiséssemos dar, eles cortavam-nos os pulsos com uma faca.
- Que horror! – exclamou o Ralph.
- Estávamos sempre a faltar às aulas, porque os meus pais achavam que era uma perda de tempo e que devíamos era ganhar dinheiro. Estávamos sempre sujos e rotos; tomávamos banho uma vez por mês com água fria e lixívia. – continuou a Alice. – Ao contrário dos meus pais, que tomavam duas vezes por semana em água quente e sabão... No Verão, usávamos roupas de gola alta e no Inverno, usávamos calções e blusas de manga curta... Éramos gozados por todos; ouvia alguns pais dizerem aos seus filhos para não se aproximarem de nós por termos piolhos e coisas do género... – Alice fez uma pausa. Estava muito emocionada, nunca tinha contado a ninguém o seu horrível passado.
- Não chores. – pediu o Ralph, tentando acalmá-la.
- Um dia os meus pais acharam que o dinheiro que ganhávamos na prostituição era pouco e começaram a fazer tráfico de droga, connosco no meio. Não nos davam de comer; íamos comer aos contentores do lixo. Aos doze anos já estávamos fartos daquela vida e fugimos de casa. Mas depois, descobrimos que os nossos pais estavam à nossa procura e que nos iam maltratar, por isso tentámos atirar-nos da ponte abaixo, mas não tínhamos coragem, por isso embebedámo-nos e tentámos atirar-nos, mas um casal que ia a passar impediu-nos. Voltámos para casa e os nossos pais, quase que nos iam matando. Aos catorze anos, ganhámos coragem e decidimos fugir de Edimburgo e ir para Londres. E assim foi: fomos para Londres, onde dormíamos na rua embrulhados em cobertores velhos e alimentávamo-nos do lixo dos contentores. Para ganharmos dinheiro, o meu irmão foi trabalhar nas obras e eu prostituí-me, pois não sabia fazer mais nada. E assim, a pouco e pouco, fomos ganhando dinheiro, mas eu já estava farta da maneira como ganhava o dinheiro e resolvi roubar dois curriculum vitae de professores reformados.
- Que vida mais esquisita! – exclamou o Ralph.
- Perdoas-me? – questionou a Alice.
- Claro. – respondeu o Ralph. – Se não tivesses roubado o curriculum vitae, eu não te conhecia... mas só de pensar que já foste prostituta...
- Vamos esquecer isto? – perguntou a Alice, limpando as lágrimas.
- Sim. – respondeu o Ralph. – Amo-te!
- Eu também te amo. – declarou a Alice, beijando o Ralph.

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